Cultura

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Os carrinhos de café, que rodam pelas ruas de Salvador, serão atração de um desfile especial no Campo Grande. A iniciativa, que acontece neste sábado (1º), das 13h às 17h, vai reunir os vendedores e seus carros no desfile ‘Salvador Vai de Cafezinho’, que em sua segunda edição tem como objetivo reconhecer o objeto, uma invenção 100% soteropolitana.

Com 30 carrinhos já inscritos, o concurso vai oferecer uma premiação em dinheiro com direito a júri de especialistas. Na primeira etapa, os jurados escolherão dez finalistas. Na 2ª etapa, serão escolhidos os três primeiros colocados, que vão receber prêmios de R$4 mil, R$3 mil e R$2 mil, respectivamente. Os outros sete finalistas, não contemplados, receberão um prêmio de R$ 1 mil cada. O projeto foi selecionado pelo Prêmio Jaime Sodré de Patrimônio Cultural - Ano II, da Fundação Gregório de Mattos (FGM).

O diretor artístico do desfile, Edvard Passos Neto, está muito feliz em poder realizar a ação no formato presencial. “É um ano especial, nos 200 anos do 2 de Julho, no Campo Grande, ao pé do Caboclo, tem muita coisa boa reunida”. Segundo Neto, o limite de participação é de 50 carrinhos, sendo 40 inscrições antecipadas até esta sexta-feira (31), através do (71) 98471-4011. No dia, outras dez vagas serão ofertadas, das 10h às 12h.

“O carrinho é um agente transformador da cidade, parece um brinquedo, tem relação com o trio elétrico, além de ser um meio de sobrevivência, resistência e luta. Sempre tive um fascínio por ele. A ideia do concurso surgiu em uma roda de conversa da FGM sobre o tema. Percebi como esses vendedores estavam desamparados. Aproveitei a chamada pública e lancei a ideia”, contou.

Além do desfile com premiação, o ‘Salvador Vai de Carrinho’ contará com uma palestra de Eduardo Fróes, museólogo, que vai contar a história do surgimento do carrinho; além da exibição de pequenos documentários, revelando as pessoas por trás dos carrinhos de café. “Vamos escolher cinco ou seis vendedores, para focar na história de vida deles e, no desfile, faremos uma homenagem a Ceará, campeão de 2021 que faleceu. Teremos muitas surpresas, é ver para crer”, concluiu o diretor artístico.

O júri será formado pelo presidente da FGM, Fernando Guerreiro, pelo museólogo Eduardo Fróes e pela artista multimídia Ana Dumas, que também possui um carrinho de café, utilizado em suas performances artísticas. Para saber mais sobre a iniciativa, visite o site www.salvadorvaidecafezinho.com.br.

Reportagem: Ana Virgínia Vilalva/Secom

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Uma oficina de literatura inclusiva vai reunir agentes de leitura que atuam diretamente em comunidades dos bairros de Itapuã e do Subúrbio Ferroviário. O evento acontece na próxima terça-feira (4), a partir das 8h30, na sala multiuso da Fundação Gregório de Mattos (FGM), na Barroquinha.

O evento conta com a participação de professores, instrutores do Instituto de Cegos da Bahia (ICB), do Núcleo de Atendimento a Criança com Paralisia Cerebral (Nacpc) e do Projeto Libra Mais, que vão capacitar cerca de 18 bibliotecários de Salvador.

Durante a oficina, os participantes receberão orientações para atendimento às crianças portadoras de deficiência auditiva, bem como poderão aprender o que é e como entendender o alfabeto em braille, como atender nas comunidades crianças com baixa visão e/ou cegas, e entender o conceito do atendimento e acolhimento de crianças portadoras da Síndrome de Down e do espectro autista (TEA).

A capacitação vai dar continuidade ao projeto Literatura Inclusiva, lançado na Bienal do Livro em novembro de 2022, através de uma parceria entre a FGM e a Casa Civil do Município. O objetivo é integrar crianças e jovens com deficiência no convívio social nos espaços de leitura e nas bibliotecas, com a disponibilização de livros em braille.

A gerente de Bibliotecas, Livro e Leitura da FGM, Jane Palma, conta que essa é a primeira vez que uma oficina como esta acontece na cidade. “Estamos engajados para fazer a diferença dentro das comunidades e garantir a inclusão das crianças e adolescentes com deficiência no universo da literatura”, pontua.

Acessibilidade – Dentro do projeto Literatura Inclusiva, já foi realizada a publicação dos livros “Boca de Cena”, “O Livro das Histórias que se Misturam”, e “Aventuras e Travessuras no 2 de Julho”, em braile. A iniciativa tem como objetivo cumprir a Lei 10.098/2000, que estabelece a obrigatoriedade da acessibilidade em todo e qualquer local de ensino e entretenimento.

“Além da estrutura física, como rampas e elevadores, a acessibilidade também engloba o acesso à cultura, educação, ensino e conhecimento, ligados à leitura. Por isso, criamos em 2017 o Programa Caminhos da Leitura da Gerência de Biblioteca, com uma ação motivadora de leitura e inclusão social, ou cultural ou de acessibilidade”, declara Jane.

Além da disponibilização de livros em braille, também está prevista ações de inclusão de crianças com visão e audição, para que se integrem com crianças com deficiência. “Por isso, desenhamos amarelinhas e disponibilizamos painéis com o alfabeto em libras tanto em bibliotecas comunitárias, como municipais”, completa a gerente da FGM.

 

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Como parte das comemorações do aniversário de 474 anos da cidade de Salvador, a Prefeitura inaugurou na quinta-feira (29), em frente à Academia de Letras da Bahia (ALB), em Nazaré, o busto do ex-presidente da instituição, o escritor, tradutor e professor Cláudio Veiga. A indicação da homenagem foi feita pela Câmara Municipal de Salvador.

Participaram da inauguração o presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Fernando Guerreiro, a diretora de Patrimônio e Humanidades da FGM, Milena Tavares, familiares de Cláudio Veiga e o vice-presidente da Academia de Letras da Bahia, Marcus Vinícius Rodrigues, dentre outras autoridades. O busto conta com um QR Code para acesso a informações sobre a vida e a obra do intelectual.

Emocionada, Teresa Veiga, filha do homenageado, disse ser muito grata à Prefeitura e à FGM pela iniciativa. “É uma belíssima e merecida homenagem prestada ao nosso pai. Ele foi presidente da Academia de Letras da Bahia por 25 anos, professor emérito da Ufba, escritor, tradutor, ensaísta, um pai maravilhoso, um marido apaixonado e um avô fora de série. Ele dedicou a vida toda aos estudos, à família e ao catolicismo”, destacou.

Para Fernando Guerreiro, monumentos como esse preservam a memória da cidade e deixam o patrimônio vivo. “A gente vive em uma cidade que tem uma tradição muito grande na literatura e na área cultural, então cabe à FGM, que é um órgão de preservação da cultura e que cuida também do patrimônio, estar sempre reverenciando e deixando esse patrimônio vivo”, afirmou.

Escultura – A escultura representando o busto de Cláudio Veiga foi produzida pela professora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Nanci Novais, em argila, moldagem em gesso e reprodução em resina e fibra de vidro com um acabamento que imita bronze.

“Construir uma escultura sempre nos traz boas lembranças e ele foi uma pessoa muito atuante. Carlos Veiga sempre foi uma pessoa tranquila, simpática, sempre estava sorrindo, por esse motivo também foi mais fácil fazer. E eu tentei retratar esse semblante de sorriso e tranquilidade na escultura”, contou Nanci.

Biografia – Doutor em Letras e ex-diretor do Instituto de Letras da Ufba, Veiga presidiu a ALB por quase 25 anos. Ensaísta e tradutor de poesia francesa, ocupou a cadeira de número 9 da Academia. Professor emérito da Ufba, o imortal baiano escreveu, inicialmente, uma série de livros sobre língua e literatura francesas.

Publicou trabalhos de literatura comparada como "Aproximações" e a biografia de Caetano Lopes Moura, "Um brasileiro soldado de Napoleão", sobre o escritor radicado na França e médico militar nas guerras napoleônicas, dentre outras publicações. Hoje, dia do aniversário de Salvador, faz 12 anos de morte de Cláudio Veiga. Sua biblioteca foi doada a um dos institutos da Ufba e hoje é utilizada por estudantes e pesquisadores.

Memória – Além da produção e instalação do busto de Cláudio Veiga em frente à ABL, também está prevista pela FGM a confecção e instalação de uma estátua de Moraes Moreira, ícone da música brasileira e do Carnaval baiano, na Praça Castro Alves.

Reportagem: Priscila Machado/Secom

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Na próxima segunda-feira (3), a Escola Criativa Boca de Brasa – Polo Criativo Cidade Baixa, sediada no Centro Cultural Sesi Casa Branca (Caminho de Areia), terá a aula inaugural, das 18h30 às 21h30. A data marcará o início da formação em artes e cultura, para agentes de campo que atuam no território de Salvador.

Dentre os mais de 200 inscritos no processo seletivo, para ocupação das vagas gratuitas disponibilizadas, 120 selecionados estarão aptos a iniciar a jornada. Rainha Vânia Oliveira, artista e professora de dança negra especializada em dança de blocos afro da Bahia, será a convidada especial da noite, que contará também com falas de representantes da Fundação Gregório de Mattos (FGM) e da Associação Conexões Criativas, parceiros do projeto.

A aula inaugural contará com a performance “As coisas que mamãe me ensinou” - título do samba de Leci Brandão -, em que Rainha Vânia Oliveira questiona: "quais foram as coisas que mamãe te ensinou? Aqui, 'mamãe' é compreendida como tudo que nos antecede, ancestralidade, lugares de origem, histórias", explica a artista.

Sankofa – Para responder a esta pergunta, ela conduz uma imersão, voltada para o estudo coletivo e pessoal, partindo das memórias como pistas para entendimento do quem vem a ser conhecimento. Inspirada no ideograma africano da ave Sankofa, cujo significado diz que é necessário retornar ao passado e buscar algo que ficou para trás, a performance convida a 'sankofar', buscando as bases das experiências que constituem cada existência e rompendo modelos impostos de formulação de conhecimento.

As aulas da Escola Criativa Boca de Brasa – Polo Criativo Cidade Baixa seguirão até 27 de agosto, de segunda a quinta-feira, sempre das 18h30 às 21h30, compondo 180 horas de carga horária total. Os participantes se dividem em três trilhas formativas, com 40 pessoas cada – Linguagens Artísticas: Dança, Teatro, Circo; Técnicas do Espetáculo: Iluminação, Sonorização, Visualidades; e Serviços Criativos: Gestão de Espaços Culturais. Tendo como conceito curatorial a afirmação “arte dá trabalho”, o projeto investe no fomento à arte, como um campo frutífero de atuação profissional, em variadas possibilidades.

Bolsas – Ao final da formação, os participantes que completarem o mínimo de 70 por cento de presença, serão certificados e estarão aptos a concorrer a 10 bolsas no valor de R$10 mil cada, juntamente com mentoria especializada de 16 horas, para impulsionamento das iniciativas coletivas e individuais.

A ação é fruto do Termo de Colaboração 001/2022, firmado entre FGM e a Associação Conexões Criativas, através dos recursos do Edital 004/2022 – Polos Criativos Boca de Brasa.

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Em comemoração ao mês da mulher, a Associação Cultural de Capoeira Gangara, grupo residente da Casa do Benin, promove a roda de conversa "Mulheres na capoeira: Uma construção de movimentos, cultura e ancestralidade". O evento acontece nesta terça-feira (28), às 18h, na Casa do Benin, localizada na Rua Padre Agostinho Gomes, 17, Pelourinho. O papo terá mediação da professora de capoeira Francine Simplicio, também conhecida como Professora Bizonha, e conta com a participação da Mestra Lilu. 

A ideia do encontro é promover, através do diálogo, reflexões sobre a presença da mulher na capoeira e como se dá historicamente a participação delas neste universo. O bate-papo também irá abordar sobre o protagonismo das mulheres no combate ao preconceito racial e ao machismo, além de falar sobre o momento atual, que permite às mulheres fomentar e falar sobre cultura e ancestralidade. 

“É de suma importância que a gente traga essas discussões de gênero para o ambiente da capoeira, por ser um ambiente muito masculino. É importante que a gente incentive e que as pessoas discutam, conversem e façam reflexões sobre esse tema, não só no mês de março, mas no ano todo”, declara Franciane Simplicio. 

A professora também comentou sobre a capoeira ser muito mais que um esporte. “É cultura, é arte, é uma ferramenta pedagógica, educativa e cultural. Através dela a gente desenvolve diversas ações para formação de pessoas”. 

Preservar a cultura – Criada em 2000, por Alcidinaldo Souza de Jesus, mais conhecido como Mestre Nal, a Associação Cultural de Capoeira Gangara é uma entidade sem fins lucrativos, que tem como objetivo trabalhar e expandir o social, a educação e a cultura afro-brasileira, utilizando métodos e conteúdos que potencializam a formação crítica dos seus alunos. 

O Grupo Gangara possui filiais nos bairros de Paripe, Engomadeira e Pelourinho, e nos municípios de Simões Filho e Araci. Ministra, além disso, aulas na Argentina e na França, como forma de preservar e difundir a cultura afro-brasileira pelo mundo.

 

Texto: Carlos Alberto Ribeiro/Secom

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Em um importante ponto de Salvador, onde a Cidade Alta e a Cidade Baixa se encontram, há uma praça para onde ruas e locais históricos convergem. De lá, é possível ir a pé ao Curuzu, lar do Ilê Aiyê, ao São Caetano, por onde os combatentes do 2 de Julho passaram, e à Calçada, onde nasceu a malha ferroviária da capital baiana. Por séculos, essa praça era conhecida apenas por Largo do Tanque, mas há alguns anos o local recebeu um sobrenome libertador: Luís Gama, o jurista autodidata que se dedicou a libertar centenas de negros escravizados no país e é o patrono da abolição da escravatura no Brasil.

Curioso que hoje as milhares de pessoas que transitam diariamente pela Praça Largo do Tanque Luís Gama observam o enorme busto do advogado, jornalista e educador baiano, localizado no centro dela, mas não conhecem os feitos do homenageado. “Eu já li um pouquinho ali no busto, mas não sabia disso tudo, não”, diz o pipoqueiro Claudemiro Lima, que trabalha no local há sete anos, logo após a reforma, porque viu o movimento crescer.

Revitalizada pela Prefeitura de Salvador em dezembro de 2015, a praça está muito viva, com mudanças que trouxeram mais qualidade de vida aos moradores da região e deixaram para trás o clima de insegurança no local. Hoje, a área tem quadra poliesportiva, um campinho de areia, equipamentos de ginástica, parque infantil, pista de caminhada, ciclovia, mesas para jogos de salão e coreto.

Rosemeire Silva, de 54 anos, trabalha vendendo empréstimos na área de convivência e lazer. “Oxe, aqui tem gente o dia todo, é muito movimentada porque é uma rotatória para todos os lugares”, diz. Contribui para isso também os dois canteiros exclusivos para pontos de ônibus que foram criados de cada lado da praça após a reforma de 2015, organizando o tráfego, além das várias ruas que desembocam no vale que é o Largo do Tanque.

Porém, nem sempre foi assim. Há uma espécie de unanimidade de que, antes da reforma, o local era evitado por ser perigoso. Morador da Avenida Nestor Duarte, em São Caetano, Walter Lima estava descansando no coreto e falou sobre o local. “Nunca mais ouvi falar de briga, de morte, dessas coisas que tinham antigamente. Mas o pessoal precisa parar com o vandalismo na praça, isso é coisa de gente que não tem visão. É dinheiro do nosso bolso. Depois fica reclamando que não tem área de lazer”, reclama.

Péricles Ávila também morava em São Caetano, mas evitava passar pelo Largo do Tanque. Mudou-se do bairro antes da reforma. Hoje, vive uma situação curiosa: frequenta a atual Praça Luís Gama sempre que visita os amigos de longa data. “Esse lugar ficou harmonioso depois da revitalização. Você chega lá no final de semana e vê os pais levando as crianças para brincar no parquinho. À noite, armam barraca para vender acarajé, churrasquinho… Tornou-se um lugar ocupado pela população mesmo, e não pela bandidagem”, relata.

Perfil – Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu em 1830 em Salvador, na Rua do Bângala, em Nazaré, próximo à Igreja da Palma. Filho de uma negra alforriada e de um branco, o garoto negro nasceu livre. Porém, foi vendido como escravo aos 10 anos pelo próprio pai, afundado em dívidas criadas pelo vício em jogos de azar. Segundo o próprio Luís, sua mãe foi Luiza Mahim, africana que lutou na revolta da Sabinada, que ocorreu em Salvador em 1837.

Negociado a um comerciante de escravos, o garoto foi obrigado a rodar por anos pelo interior do Rio de Janeiro e de São Paulo, sem nunca ser comprado. À época, os negros baianos eram mal vistos por serem considerados revoltosos. Acabou trabalhando na casa deste comerciante, onde aprendeu a ler aos 17 anos com a ajuda de um estudante de Direito que era hóspede do patrão.

A educação o libertou, literalmente. Alfabetizado, Luís conheceu as leis e a injustiça que lhe havia sido cometida e conseguiu judicialmente a sua liberdade da escravidão. Foi a sua primeira vitória na Justiça e um prenúncio do que estava por vir. Logo, mudou-se para a capital paulista, onde serviu à força militar, entidade de segurança pública da época.

Como poucos da força militar sabiam ler, Luís foi nomeado escrivão do órgão e teve contato ainda mais profundo com as leis. Autodidata, estudou a legislação e frequentou a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, uma das poucas instituições de ensino da época e, até hoje, uma das mais renomadas da área no Brasil.

Porém, ser aluno de fato não lhe era permitido por ser negro. Por isso, assistiu às aulas como ouvinte. Luís decidiu então tornar-se um rábula, ou seja, um profissional que não é formado em Direito mas que possui profundo conhecimento jurídico e pode advogar nos tribunais.

Assim, deu início ao seu legado. Como rábula, dedicou-se a libertar na Justiça outros negros que, assim como ele um dia, estavam escravizados. Até 1882, quando faleceu, Luís já havia conquistado a liberdade de pelo menos 500 pessoas. Mais do que isso, ajudava os negros recém-libertos a encontrarem casa e trabalho.

Sua luta não ficou restrita aos tribunais. Luís foi um dos fundadores do jornal satírico Diabo Coxo, além de ter escrito para outros jornais paulistas. Em seus textos, defendia de forma inflamada o fim da escravatura no Brasil e era um crítico feroz da monarquia e do regime escravocrata. Ciente do papel que a educação teve em sua liberdade, ainda fundou uma escola gratuita para que crianças e adultos negros pudessem ser alfabetizadas.

Seus julgamentos em prol dos escravizados eram comentados em todo o país. Seus textos e suas ideias abolicionistas, também. Numa carta, escrita pouco antes de falecer, Luís disse ter perdido a conta de quantas vezes foi ameaçado de morte. “Todo esse ativismo humanista tornou Luís Gama uma das pessoas mais conhecidas e influentes do Brasil à época. E, também, uma das mais perseguidas pelos escravocratas”, diz o historiador Murilo Mello.

“Estamos falando de meados do Século XIX, e naquela época Luís já entendia que a educação é libertadora. Sendo negro, vendido pelo pai como escravo, com toda esse passado de abandono, tendo estudado Direito como autodidata, é incrível a sua força e o que ele conquistou. Luís Gama é, sem dúvidas, uma das pessoas mais importantes da história brasileira e deve ser lembrado sempre”, completa.

Luís Gama morreu em 24 de agosto de 1882, vítima de diabetes. “O enterro dele foi uma comoção em São Paulo. Estima-se que cerca de 10% da população da cidade na época compareceu ao seu velório, para se ter uma ideia do quanto ele influenciou e impactou as pessoas numa época em que não havia rádio, TV e internet”, destaca Mello.

O libertador de escravos, portanto, não vivenciou a Lei Áurea, de 1888, que acabou com a escravidão no Brasil. No entanto, os historiadores consideram que Luís Gama é a própria natureza encarnada da lei, por ter aplicado os seus efeitos, através da sua luta, muitos anos antes. É, inclusive, o único intelectual do movimento abolicionista a ter, de fato, sofrido os efeitos perversos da escravidão.

“Luís é a pessoa mais relevante da luta abolicionista da segunda metade do século XIX. Ele quebra toda aquela ideia de que a abolição foi feita pela Princesa Isabel e por intelectuais brancos. Nada disso. A luta da sociedade civil, especialmente de negros, foi fundamental. E Luís Gama foi um dos mais atuantes nessa linha”, resume o historiador Murilo Mello.

Homenagens – O legado de Luís Gama tem recebido uma série de homenagens na última década. Em 2015, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) concedeu-lhe o título de advogado. Em 2017, a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, hoje parte da Universidade de São Paulo (USP), batizou uma de suas salas com o nome do abolicionista.

Em 2018, Luís Gama foi inscrito no Livro de Aço dos Heróis Nacionais, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves. Em 2021, a USP concedeu-lhe o título de doutor honoris causa.

Reportagem: Vitor Villar/Secom

 

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Nesta quarta-feira (29), quando Salvador celebra Salvador 474 anos, o Doca1 promoverá uma ocupação que vai debater caminhos para potencializar negócios voltados à economia criativa. O evento, intitulado “Ocupa Doca1 - As trilhas para uma Salvador criativa”, é gratuito e ocorrerá das 9h30 às 12h, no espaço, situado na Avenida da França, no Comércio. Não é necessário inscrição prévia.

O evento reunirá personalidades que são referências para o setor, a fim de debater estratégias que podem ser desenvolvidas na capital. Vão participar do bate-papo o publicitário cofundador da Vale do Dendê, Paulo Rogério; o presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM) e membro do Conselho Curatorial do Doca1, Fernando Guerreiro; a gestora cultural e professora do Núcleo de Pós-Graduação em Administração (Ufba), Daniele Canedo; o pesquisador e coordenador do Observatório Estadual de Economia Criativa-Bahia, Messias Bandeira; o artista plástico e editor da Caramurê, Fernando Oberlaender; e o diretor de conteúdo e gerente de projetos da Califórnia Media House, Will Brandão.

A diretora artística do Doca1, Livia Cunha, explicou que o evento foi pensado para celebrar o aniversário da capital baiana através da criatividade, característica marcante de Salvador, além de também apresentar o espaço ao público soteropolitano. “Nossa proposta é promover um encontro aberto ao público, em que colaboradores da Doca1 possam compartilhar com todos os planos e expectativas para o espaço, que em breve será ativado. Vamos falar sobre projetos, ideias, ocupações propostas, publicações e pesquisas previstas para acontecerem na Doca1. É uma forma de nos aproximarmos do público”, detalhou.

A gestora também ressaltou a importância do evento para fomentar a economia. “Esperamos alcançar um público ligado à economia criativa da cidade e do entorno, que, uma vez que tomem conhecimento das instalações, serviços e projetos a serem realizados no Doca1, possam propor outras atividades ou parcerias”, finalizou Livia.

Inovação e cultura – Para Fernando Guerreiro, o Ocupa Doca1 vem com o intuito de reforçar a necessidade de se formar um grande movimento no local. “Este evento pode ser um marco regulatório e significar a abertura oficial dos trabalhos sequenciados do espaço. O que precisa agora é transformar o que se fala em ação, provocando o início imediato dos trabalhos”, pontuou.

Estrutura – O Doca1 – Polo de Economia Criativa é um dos primeiros equipamentos do país que reunirão inovação e cultura para impulsionar a economia. A ideia é que dentre as atividades o espaço possa incentivar novos talentos, promover a qualificação de mão de obra criativa da cidade e aproximar empresas e trabalhadores envolvidos com o capital intelectual, criativo e inovador.

Reportagem: Joice Pinho/Secom

 

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Assim como o carnaval, o samba e o futebol, a capoeira é um elemento representativo da identidade cultural do país. Ao longo dos últimos anos, essa expressão cultural afrobrasileira passou a contar com uma série de estímulos do município, para o incentivo à prática e à transmissão de saberes da arte-luta, através de editais, prêmios, projetos em comunidades carentes e escolas públicas. E mais novidades vêm por aí.

Até o final de abril, durante o período de comemorações dos 474 anos de Salvador, a Prefeitura dará início à construção de uma arena, na Praça Marechal Deodoro (também conhecida como Praça das Mãozinhas), no Comércio, que acolherá praticantes e admiradores da capoeira, vindos de todos os cantos mundo. Além de ser palco de rodas e apresentações, o espaço terá um monumento composto por quatro arcos de 12 metros de altura em aço, representando quatro berimbaus que se unirão ao topo, dando o formato de uma grande cabaça e uma espécie de templo.

No local ainda haverá dez esculturas, em homenagem a mestres capoeiristas , tocando os principais instrumentos musicais da roda da capoeira, além de mais duas estátuas, simbolizando a luta, na base central. Todas elas serão feitas em tamanho natural e confeccionadas em bronze. A nova arena será uma área destinada à realização de rodas de capoeira na capital baiana, como as tradicionais que já existem no Terreiro de Jesus, praças da Sé (Pelourinho) e Cairu (Comércio, além do Mercado de São Miguel (Baixa dos Sapateiros), tornando-se ponto de difusão da expressão cultural.

Além de ter as ruas como pano de fundo, a estratégia de propagar a capoeira na capital baiana tem alcançado crianças, jovens e adultos, em grandes espaços multiuso. O pequeno Lorenzo, de apenas 3 anos, teve seu primeiro contato com a prática, dentro do Centro de Artes e Esporte Unificado (CEU) de Valéria. O local tem quatro turmas de capoeira, que somam 40 alunos no total.

As atividades são conduzidas, às terças e quintas, pelo mestre Cabeção. “A região de Valéria é considerada carente, mas a capoeira vem mudando a vida de muitas crianças e jovens, fazendo-os alcançar o inimaginável. Num bairro onde muitos só conseguem enxergar violência, estamos trazendo de volta à população o prazer da cidadania, formando artistas, lutadores e professores”, reforça o professor.

A tia de Lorenzo, Jennifer Kellen Lopes de Jesus, 22 anos, foi quem levou o garoto para as primeiras aulas. “A mãe teve a ideia de colocá-lo para aprender um esporte e entendeu que a capoeira seria o mais adequado, inclusive para a formação dele”, conta ela.

A pouco mais de três quilômetros de distância dali, no Subúrbio 360, em Coutos, mais de 100 pessoas participam das aulas gratuitas, aprendendo noções básicas e movimentos do gingado. “A capoeiragem é uma ferramenta socioeducativa, que proporciona educação e disciplina, além de trabalhar o corpo e a mente das crianças. Eu sou muito grato por contribuir para a educação da população aqui no Subúrbio. É um trabalho que já faço há 27 anos”, revela com orgulho o mestre Zé Pequeno. As aulas por lá acontecem sempre de segunda a quinta-feira.

Premiação – Diversas iniciativas relacionadas à memória e transmissão de conhecimentos da capoeira recebem incentivos por meio de aporte de recursos públicos. Uma das principais ações realizadas na capital baiana nesse sentido é o prêmio Capoeira Viva, criado em 2017 pela Fundação Gregório de Mattos (FGM). Só com essa política de valorização, o órgão já destinou mais de R$1 milhão em investimentos.

Na última edição, ano passado, R$300 mil foram direcionados a 16 projetos, como grupos de capoeira que se apresentam em ruas, praças e quadras; atividades de formação (oficinas, documentários e livros) e de intercâmbio (batizados, rodas de conversa e encontros de mestres). Foram selecionadas propostas que valorizavam a preservação dos elementos tradicionais da capoeira, como expressão cultural genuinamente afrobrasileira e que são realizadas em diferentes áreas de Salvador, como Parque da Cidade (Itaigara), Itapuã, no Nordeste de Amaralina, no Mercado São Miguel (Baixa de Sapateiros), Terreiro de Jesus (Pelourinho) e Campo Grande.

“O prêmio é uma iniciativa que mobiliza toda a cadeia cultural, assim como todos os agentes envolvidos com o saber fazer da capoeira. Uma das edições do Capoeira Viva, inclusive, foi voltada para as escolas municipais de Salvador”, conta o gerente de Patrimônio Cultural da FGM, Vagner Rocha.

Antes do prêmio ser instituído, entre 2014 e 2015, a fundação realizou um cadastramento da capoeira em Salvador. O objetivo foi de construir uma base de dados do segmento, servindo de fonte de pesquisa para estudiosos e de subsídio para a implementação de políticas públicas, voltadas à manifestação cultural.

Origem e legado – Arte-marcial, esporte, dança, música. A capoeira é uma manifestação cultural multifacetada, sendo caracterizada pela gestualidade corporal e sonoridade executada por um conjunto de instrumentos musicais (berimbaus, pandeiros, reco-reco, agogô e tambor), que traduzem cantigas em forma de corridos e ladainhas.

Historiador e doutor em Estudos Étnicos e Africanos, Josivaldo Oliveira explica que a capoeira passou por processos de evolução, sendo uma prática cultural que sintetiza elementos linguísticos e estéticos de vários grupos africanos, os quais foram trazidos para trabalho escravo no Brasil, entre os séculos XVI e XIX. Em terras brasileiras, a expressão incorporou ainda elementos dos povos originários (indígenas) e colonos europeus, tornando seu significado mais complexo.

A expressão, como conhecemos, se constituiu entre o século XVIII e XIX, quando homens e mulheres escravizados praticavam seus movimentos nos terreiros das fazendas e vias públicas das vilas, com o intuito de entretenimento. Entretanto, em momentos de necessidade, as habilidades corporais ganhavam outra conotação, para reagir contra toda e qualquer ameaça.

“Era corriqueiro um capoeira se defrontar com policiais e capitães do mato, em situações de tensão ou fuga do trabalho escravo. Por conta das habilidades corporais, logravam êxito. Por esta razão, as autoridades policiais e as próprias elites políticas procuraram controlar a capoeira, criminalizando-a”, relata o historiador.

Em 1890, a capoeira foi citada no Código Penal como crime, o que justificou encarceramento de muitos praticantes. Ao longo do século XX, a manifestação driblou a criminalização e ganhou status de esporte e cultura popular, alcançando no século XXI a condição de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil (2008) e da Humanidade (2014).

“A capoeira reúne em termos de diversidade linguística e estética o que melhor representaria o Brasil, enquanto um país caracterizado por tamanha diversidade cultural. Ela não só canta o país em suas poesias orais, mas também em sua gestualidade corporal. Ou seja, a capoeira constitui uma leitura do que somos”, define o especialista.

Reportagem: Thiago Souza/Secom

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O prefeito de Salvador, Bruno Reis, lamentou neste domingo (26) o falecimento do compositor e humorista Juca Chaves, ocorrido na noite de sábado. O artista tinha 84 anos e há décadas deixou o Rio de Janeiro, onde nasceu, para viver na capital baiana.

"Que notícia triste neste domingo! Perdemos Juca Chaves, um artista completo, que misturava música e humor de uma forma ácida e divertida. Amou Salvador, da mesma maneira que cativou a gente com seu jeito único. Obrigado por tudo! Que Deus conforte seus familiares neste momento", publicou Bruno Reis nas redes sociais.

Juca Chaves estava internado no Hospital São Rafael, em Salvador, onde faleceu. Ele morava com a família no bairro de Itapuã. O velório está previsto para começar às 14h30 deste domingo, no Cemitério Bosque da Paz. O corpo do artista será cremado às 16h.

 

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